segunda-feira, 27 de abril de 2015

Desbrava esse sertão cheio de dor. Abraça essa floresta de ninguém e acampa no meio do perigo. Mergulha de alma aberta na face do desconhecido e diz que mais vale se apaixonar pelo que ainda não conhece do que namorar uma rotina de calendário. É fogo, é água, é sol, é chão. É índio de pele parda, tinta coral na bochecha do rosto, penacho é coroa, é o cacique da fantasia. Aquele ali, tão dono dessas terras sem posse, olha também querendo saber de onde branco veio. Foi quando assim, o bandeira o não disse. Decide então, ali infiltrar no mundo não-seu, cair na órbita do inóspito, na aventura do conhecer a mata fechada. E assim proclama que melhor seria estar perdido nos idiomas que não sabia traduzir do que se encontrar nos manuais da velha vida. E quando vê, já bebe o sangue do teu medo. Cai e levanta dentro aquilo que é novo, seca a fonte do insano, bebe a água do inesperado. Experimenta o veneno que ainda ninguém provou só pelo prazer de quem sabe morrer. Troca de pele toda noite, sob o luar que banha essa selva. Selva ainda sem mapa, bandeirante ainda sem nome, tudo que tem é o contorno de teu corpo na contra-luz do cruzeiro. Há mais aqui do que se conhece. Mas que seja assim: sempre mistério, sempre dúvida, sempre arriscado. E por fim, não se contenta com o que já te disseram sobre o escuro. O preto que se vê é um só, mas o que se vê do preto é um infinito a parte na história das cores. Desbrava teu mundo!

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