terça-feira, 24 de setembro de 2013

Chove estrelas nesse céu. Chove ideias nessa mente que vaga. Está chovendo lágrimas nesse jardim de flores bonitas. Bonitas, porém traiçoeiras. Fazem do fel amargo das lágrimas seu alimento, combustível de sua beleza. E então, pobre de mim, jardineiro de flores malvadas.

Outono

Na perfeição de cada segundo, coisas boas se desgastam nas linhas do tempo. E nesses tempos de coisas profundas a vida se mostra como os ventos do outono, que levam as folhas velhas, deixando o esqueleto seco de uma alma que irá florescer de novo, de novo e de novo. Mas mesmo florescendo assim, sazonalmente, existe aqui dentro um vazio, um abismo tão imenso e escuro quanto o oceano, uma falha que se torna dor a cada passo e então continuo eu, indecifrável, incógnito e incompleto. Como uma peça de quebra-cabeças que foi colocada na caixa errada e não se encaixa naqueles moldes tão diferentes daquilo que esperei encontrar. E esse vazio que caleja minha alma, nada preenche, nem o amor mais doce, nem o carinho mais terno, nem o abraço mais apertado. Depois de tanto colocar entulhos dentro de mim, sem alcançar minha plenitude, percebo que esse sou eu, que esse vazio é tão meu e tão eu quanto qualquer outro traço de mim mesmo. E assim vou, possuído pela imensidão desse vazio, englobo todos esses sentimentos que encontro pelo caminho, sedento por vida devoro esses corações que me oferecem um afago. Construo minha sina amando sem fim, me lançando nesse abismo da existência pois, quem sabe, a intensidade de viver consiga preencher pelo menos alguns milímetros desse universo escuro e denso que vive comigo.