segunda-feira, 26 de outubro de 2015

É antiga essa minha paixão pelo silêncio. É nos baixos volumes que os tons da minha alma se fazem beleza. E nesses tons me faço inteiro deles, me faço alegoria sem plateia pois o único aplauso que me contempla é do espetáculo sem público. Meu silêncio é esmeralda bruta que não se lapida. Pedra selvagem concebida no sol árduo das minhas intempéries. Nos raios quentes dos meus amores, nas noites frias das minhas ilusões, o que vigorou foi o meu silêncio. A alma é biblioteca dos sentimentos que tenho, agrupados e guardados sob o carinho e a vergonha de expor meus tão doces, porém tortos, devaneios. E com o tempo sentimentos assim se transformam em rancor, e depois do rancor, eles viram silêncio amargo. No silêncio os pecados são piores, os planos são maiores e a liberdade tão somente mais perigosa. É o meu silêncio a tradução da sutil possibilidade de ter o meu-mundo, sem espécies estranhas ou agressões consentidas onde tudo que quero é tudo que posso. O silêncio é passaporte para o meu desconhecido já tão mapeado e estudado. O silêncio é a voz que, por motivos próprios, a minha alma escolheu. O que passa despercebido aos olhos de vocês, queima brasas em mim: labaredas de palavras não ditas, encarceradas junto à cela da negligência. O meu silêncio fala por mim, muito mais que o discurso ensaiado.