domingo, 7 de dezembro de 2014

Historicamente, sou assim: depressões e ápices, colinas e vales. Poucas linhas retas, um horizonte em ziguezague, meus variantes não tem fim. Na montanha russa da minha alma poucas coisas ainda estão no lugar que um dia foram delas. Peço a vocês que entendam que oscilar, para mim, é tão natural quanto respirar. Oscilo dentro daquilo que cabe a mim, dentro daquilo que é meu mundo, meu medo, meu amor. A angústia de viver me faz trepidar, e perdido na efemeridade da vida, me atenho ao amargo das minhas filosofias. Filosofias nas quais consigo me traduzir, mas somente para mim, pois sou como um símbolo perdido, que adere a muitos significados, porém em essência, poucos deles me contemplam. Mudo e transmudo entre dois campos, permuto entre a doçura do amanhecer que promete nova vida e o pungir da noite que esmaece o sono. Pois bem, prefiro a noite. Ela conjuga meus pensamentos e as estrelas. Solto no vazio do escuro, me sinto a vontade para mudar, permutar, e me transformar quantas vezes me vem a mente. Pulo de estrela em estrela, renovo meu caos, acalmo minha paz. Sou vítima da minha maldade, me rendo ás minhas saudades e então a dor se faz prazer. Minha sensatez se dissolve nas minhas várias formas, e então, nesse momento, tenho a oportunidade de me escolher dentre os inúmeros modelos de mim mesmo. Me enveneno da tristeza do meu ser e nesse infinito veludo negro me espalho, me dissemino, fazendo do mundo, meu mundo. Mas de repente caio no sono, e quando acordo, ainda quero prosseguir mudando, sem me lembrar que já não é mais noite e preciso voltar a ser um só. Amanheceu!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

As estrelas embalam meu sono nesta noite. De baixo desse céu cheio de cristais, minha mente vaga por caminhos que já foram meus mas que hoje não passam de poesias nos rodapés dos meus livros da faculdade. Com a imponência de uma maturidade adquirida em degraus, pode se dizer que meu coração é hoje um adulto, com todos os vícios e manias típicos daqueles que já viveram um degradê de emoções. Contudo, sem a petulância de pensar saber tudo, pois sabemos que a cada novo passo, se faz uma nova lição, cada novo dia, temos uma nova noção daquilo que somos, mas principalmente, daquilo que queremos ser. Sou inconstante demais para ser decifrado por qualquer dicionário que não seja o meu. Eu oscilo, eu trepido, eu tropeço em mim mesmo. Andei buscando perfume em flores de plástico, me afoguei em copos rasos, amei coisas descartáveis e descartei a mais nobre seda do amor. Eu vago sem me entender, mas nas profundezas de mim eu ainda encontro um pouca da minha coerência. Me desculpe. Eu sempre gostei de dormir tranquilo no meio da tempestade.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Epopeia

Super-homens de capa roxa eram mártires naquele mundo de concreto. Homens de aço feitos de borracha que sangravam tinta pelas frestas da alma. Dizem que Jesus Cristo morreu na cruz para transformar os diamantes deles em carvão sem valor, mas esses super-heróis não acreditavam em histórias cristãs. Eles eram pagãos na dança dos reis, sem um divino que os ensinasse a punir. Sua religião era o amor: perdendo amigos simplesmente por existir, fazendo inimigos simplesmente por amar. No gosto amargo da solidão, eles salvavam seu próprio mundo, se pintavam com o pó das estrelas, se vestiam de roupas de um futuro esquecido, e isso lhes bastava para enriquecer seus espíritos de uma glória indecifrável para nós, seres comuns. No entanto, também fomos fabricados para sermos heróis, educados para duvidar daqueles que viviam nas sombras, mas sem saber que quem se escondia nas trevas da ignorância éramos nós, perdidos na petulância de odiar aquilo que não entendíamos. Éramos marionetes do prazer sórdido de sermos a maioria. Ocupados demais em ressaltar a proeminência de nosso egoísmo, territorializamos esse mundo, preferimos designar partes, para que no fim, não sobresse nada para aqueles que não faziam parte do que considerávamos “nosso”. E então banimos aqueles mutantes sem causa, demos a eles apenas os becos de uma sociedade pelega. E assim, todas as vezes que eles ousaram desfilar por aí com sua imponente sua capa roxa, mostrando na dolorosa saga do cotiado suas virtudes sobrenaturais, soubemos quem eram eles, e pois bem, fuzilamos suas lindas faces com olhares encharcados de repulsa e desgosto. E então, ali mesmo matamos suas almas, deixando seus corpos vivos, porém ocos, insanos, apodrecendo no desconsolo do preconceito. Poucos anos se passaram depois disso, aliás o tempo é relativo. Criamos e tangemos epopeias como essa para justificar por que matamos tantos heróis, mas principalmente para justificar por que alimentamos a plebe rude com um banquete dos deuses.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Nascemos tão livres! Mas mesmo assim insistimos nos fazer prisioneiros de nossa própria liberdade. Dia após dia temos a belíssima oportunidade de construir dias perfeitos, mas ao contraio disso, usamos nossas horas para fabricar memórias descartáveis. Abrindo mão de porções tão pequenas de nós mesmos, no fim acabamos ficando sem pedaços inteiros daquilo que dia fomos. Talvez, instintivamente, criamos um bloqueio para tudo aquilo que é grandioso demais para se fazer nosso, então preferimos nos habituar ao "pouco" ao invés de procurar a pungência que nos transforma em grandes almas: optamos por valorizar momentos de pouca glória, perto de pessoas de pouca profundidade para, aos poucos, moldar um passado de nos traz pouca saudade. Um passado que devora o presente instantâneo e sem ver, já somos escravos dos nossos rastros na areia do tempo. Penso que esquecemos que a essência de um perfume não está na prateleira em qual fora colocado, mas sim, dentro do seu próprio frasco. Pessoas são como perfumes: nossa essência se encontra trancada dentro do frasco transcendental da alma e não na prateleira previsível que fomos designados. Talvez eu tenha aprendido que ser grandioso não signifique necessariamente ser efusivo. Ser grandioso é saber ser adequado, ser sutil aos olhos terceiros, saber reservar minhas explosões com uma educação superiormente apurada e ter a decência e a maturidade para decifrar em quais momentos a vastidão da minha alma deve ser ligeiramente compartilhada com alguém além de mim, para assim criar lembranças as quais eu me orgulhe em emoldurar.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Meus poemas são frustrados, meu coração é um estilhaço perdido. As estrelas do céu cederam seu lugar para o leitoso mel preto da noite, aquele que tudo ofusca, tudo destrói, tudo apaga. Meu espelho hoje só me mostra desertores, soldados que desistiram da guerra pela primazia da dúvida: é possível lutar sem morrer? Me sinto dono de um império de imundices e fraquezas. Um covarde latente por saber muito bem o que fazer com esse passado medíocre, mas que a simples inércia de um embalo doce me permite prorrogar a agonia dessa ferida por mais algumas lágrimas. E me envolver assim, com uma ou duas almas que ainda não trilharam seu caminho faz com que a minha bela alma também se perca em noites de tormenta. Justo eu, que sempre lapidei prontidão e maturidade naqueles que me cercavam, hoje me contorço, me contraio, me espremo para conseguir pelo menos algumas poucas doses desses antídotos. Me tornei um vadio de metades, morador do meu castelo de areia, que permeia o meio termo da sabedoria e a incompletude da competência. A ideia que me salva é a mesma que me desatina: o conforto de saber, de compreender e decifrar meu universo atual como se tivesse passado anos a fio lendo manuais ilustrados da minha própria jornada, me tira a sensação de escuridão total e me injeta na veia o torpor de poder estar no controle desse leme, mas ao mesmo tempo me enclausura na cegueira da covardia inerte por simplesmente continuar aqui, engessado em um palco que fede a sangue seco, na frente de uma plateia de amigos e inimigos que imploram juntos pelo fim desse musical mudo. Ainda vai demorar algum tempo para reunir minhas armas para lutar contra mim mesmo. Mas não me preocupo, não exijo tanto de mim, não cobro tanto que meu coração e minha mente trabalhem juntos, assim, tão rapidamente. Até porque, eu sei que há aqueles animais em pele de gente que já com décadas de vida ainda não se moldaram, não se descobriram e muito menos brotaram neles a vontade quase rochosa de solucionar seus próprios problemas. A sede de independência nunca chegará para eles que bebem a água da imaturidade. Eles vagam por ai, esperando o dia em que o acaso dê algum significado para suas vidas, perdidos no paraíso. Eles nunca completam tarefas, eles nunca se entregam para o amor, nunca esquecem o passado. Tão pequenos que ainda não sabem a delícia do que é ser alguém, o prazer de ter opiniões e a doçura de se realizar, não só como pessoa, mas principalmente como espírito. Peço desculpa a vocês, mas eu não sou de me perder assim, já me encontrei demais para me deixar levar por qualquer brisa de verão, por qualquer cheiro de amor. E mesmo com meus poemas frustrados e um coração estilhaçado, tenho minha vantagem: sei exatamente o que fazer a respeito daquilo que fizeram de mim, só não o faço porque sou tolo demais para acreditar em mim mesmo.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Nocaute, outra vez.

Você se lembra quando éramos jovens? Os anos duravam para sempre. Tempo não nos faltava. Então, naquele esplendor juvenil, eu não sabia para que me serviriam sessenta, setenta anos. Eu via o brilho das estrelas e elas se confundiam com os olhares que encontrei pelo caminho. Eu via as danças nas minhas noites de juventude e elas se confundiam com as idas e vindas do meu coração. Como eu vivi. Como eu brilhei. Mas quão rápido eu me apaguei. Hoje eu sei que nem milhares de anos seriam suficientes para ver tudo que esse mundo esconde de mim.