quinta-feira, 3 de abril de 2014

Meus poemas são frustrados, meu coração é um estilhaço perdido. As estrelas do céu cederam seu lugar para o leitoso mel preto da noite, aquele que tudo ofusca, tudo destrói, tudo apaga. Meu espelho hoje só me mostra desertores, soldados que desistiram da guerra pela primazia da dúvida: é possível lutar sem morrer? Me sinto dono de um império de imundices e fraquezas. Um covarde latente por saber muito bem o que fazer com esse passado medíocre, mas que a simples inércia de um embalo doce me permite prorrogar a agonia dessa ferida por mais algumas lágrimas. E me envolver assim, com uma ou duas almas que ainda não trilharam seu caminho faz com que a minha bela alma também se perca em noites de tormenta. Justo eu, que sempre lapidei prontidão e maturidade naqueles que me cercavam, hoje me contorço, me contraio, me espremo para conseguir pelo menos algumas poucas doses desses antídotos. Me tornei um vadio de metades, morador do meu castelo de areia, que permeia o meio termo da sabedoria e a incompletude da competência. A ideia que me salva é a mesma que me desatina: o conforto de saber, de compreender e decifrar meu universo atual como se tivesse passado anos a fio lendo manuais ilustrados da minha própria jornada, me tira a sensação de escuridão total e me injeta na veia o torpor de poder estar no controle desse leme, mas ao mesmo tempo me enclausura na cegueira da covardia inerte por simplesmente continuar aqui, engessado em um palco que fede a sangue seco, na frente de uma plateia de amigos e inimigos que imploram juntos pelo fim desse musical mudo. Ainda vai demorar algum tempo para reunir minhas armas para lutar contra mim mesmo. Mas não me preocupo, não exijo tanto de mim, não cobro tanto que meu coração e minha mente trabalhem juntos, assim, tão rapidamente. Até porque, eu sei que há aqueles animais em pele de gente que já com décadas de vida ainda não se moldaram, não se descobriram e muito menos brotaram neles a vontade quase rochosa de solucionar seus próprios problemas. A sede de independência nunca chegará para eles que bebem a água da imaturidade. Eles vagam por ai, esperando o dia em que o acaso dê algum significado para suas vidas, perdidos no paraíso. Eles nunca completam tarefas, eles nunca se entregam para o amor, nunca esquecem o passado. Tão pequenos que ainda não sabem a delícia do que é ser alguém, o prazer de ter opiniões e a doçura de se realizar, não só como pessoa, mas principalmente como espírito. Peço desculpa a vocês, mas eu não sou de me perder assim, já me encontrei demais para me deixar levar por qualquer brisa de verão, por qualquer cheiro de amor. E mesmo com meus poemas frustrados e um coração estilhaçado, tenho minha vantagem: sei exatamente o que fazer a respeito daquilo que fizeram de mim, só não o faço porque sou tolo demais para acreditar em mim mesmo.