segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Amar demais

O que restou de mim é o que eu ainda quero ser, porque tudo o que era em mim, conseguiu morrer por medo de amar. Na verdade medo não, ter medo impede uma série de coisas que eu fiz de forma plena. Eu morri mesmo foi por amar demais. O meu amor, há tanto já anunciado, é exdrúxulo, é corrosivo, é impetuoso. Ao passo que amores são feitos para reconstruir as ruínas, o meu amor se diferencia nessa função consumada. O meu amor é uma tempestade de verão, é um vulcão que cospe fogo, uma avalanche de injúrias. Literalmente, eu sou uma catástrofe, e o meu amor, o seus destroços. E por onde passa, meu amor deixa uma ferida aberta daquelas que não cicatrizam, que insistem incomodar cada movimento. Dito isso, não tenho dúvidas que amar nunca foi minha melhor qualidade, mas sim meu pior defeito. Talvez, durante todo esse tempo, eu tenha me detido de relacionamentos muito duradouros simplesmente por não querer expor meu amor e permitir que tudo termine antes que seja destruído por mim mesmo. Mas tudo isso por amar. Amar do meu jeito tão particular de amor. Meu tão impulsivo amor. Um júbilo do instantâneo, quase um relâmpago. Mas saiba, meu bem, meu amor não é de todo mal. Nada aqui é feito para doer. Na verdade, tudo é dado de forma totalmente fraterna, sem qualquer intensão de ferir. Mas quando menos se espera, até a mais bela serpente dá o teu bote, até a mais doce fruta tem seu veneno, até o meu tão belo amor se faz algoz! Isso prova cada vez mais que sou um fantasma perdido, que vaga, que vaga, sobretudo, sozinho. Que pede desculpas por amar. Vivendo dias cada vez maiores, na tentativa de domar meu amor e adaptá-lo às suas formas não-tóxicas. Hoje peço desculpas a todos a quem já amei e aqui prometo nunca mais amá-los. Talvez, de tanto sufocar aqueles que eu amei, eu me faça esquecer de como amar, dando a oportunidade de que vivam a serenidade ao meu lado, sem a tormenta dessa intensidade toda. Mas até lá, peço paciência com esse meu triste e desajeitado jeito de amar. Mas nunca se esqueçam, todos vocês: eu amo demais!

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

É antiga essa minha paixão pelo silêncio. É nos baixos volumes que os tons da minha alma se fazem beleza. E nesses tons me faço inteiro deles, me faço alegoria sem plateia pois o único aplauso que me contempla é do espetáculo sem público. Meu silêncio é esmeralda bruta que não se lapida. Pedra selvagem concebida no sol árduo das minhas intempéries. Nos raios quentes dos meus amores, nas noites frias das minhas ilusões, o que vigorou foi o meu silêncio. A alma é biblioteca dos sentimentos que tenho, agrupados e guardados sob o carinho e a vergonha de expor meus tão doces, porém tortos, devaneios. E com o tempo sentimentos assim se transformam em rancor, e depois do rancor, eles viram silêncio amargo. No silêncio os pecados são piores, os planos são maiores e a liberdade tão somente mais perigosa. É o meu silêncio a tradução da sutil possibilidade de ter o meu-mundo, sem espécies estranhas ou agressões consentidas onde tudo que quero é tudo que posso. O silêncio é passaporte para o meu desconhecido já tão mapeado e estudado. O silêncio é a voz que, por motivos próprios, a minha alma escolheu. O que passa despercebido aos olhos de vocês, queima brasas em mim: labaredas de palavras não ditas, encarceradas junto à cela da negligência. O meu silêncio fala por mim, muito mais que o discurso ensaiado.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Foi com a caneta em punho que comecei esse texto. É uma metalinguagem, já dizendo. Um conto que fala sobre uma carta de amor. E também sobre como meus sentimentos repousaram tão graciosamente nas margens do papel, permanecendo ali negligenciados. É sobre a dor de passar despercebido. Enfim, foi com a caneta em punho que comecei esse texto. No emaranhado do meu tédio diário, abri uma folha branca do meu caderno de rascunhos e meu punho começou a deslizar pela folha. Mas o que surgiria daquele espaço branco, seria dessa vez especial. Eu poria ali a tradução do meu amor, e aquela coroa de versos eu daria de presente para comemorar nossos meses, que já totalizavam 5. Deixei com as que as palavras caíssem livremente na folha, sem aprisionar nem aprimorar e sem que apagasse qualquer erro. Eu quis que o texto fosse carregado de amor natural, queria que a curva dos versos fossem simples e singelos, assim como o rosto de dois amantes que acordam pela manhã. A cada letra, eu despia um arsenal da minha armadura. Conforme o texto ganhava sabor, eu me sentia mais vulneral por exportar o que antes só havia nas curvas mais íngremes do meu coração. Nas duas folhas por fim, eu coloquei o que jamais falaria com minha voz. Meus medos, meus amores, minhas felicidades, minhas desculpas, meus gostos, minhas ousadias, minhas perspectivas e meus planos. A linha do tempo dos meus sonhos com tanta doçura seria entregue a alguém. E ao fim de tudo, eu estava nu. A prazeirosa fraqueza de amar tinha sido manchete daquele texto. Me destruir agora parecia tão fácil. Mas eu pouco me importei, porque imaginei que seria recompensado, ao menos com um sorriso de obrigado. Entreguei a carta sem muita cerimônia, e então ela foi posta em cima da escrivaninha para ser deleitada num momento mais apropriado. 2 dias depois a carta ainda repousava na mesma posição que foi deixada. As palavras que foram feitas para serem lidas, ficaram sem função jogadas no papel. Ver o texto ali junto a outras papeletas sem valor, foi como olhar de longe para o meu amor e ver que ele já não vale mais tanto a pena. Aos olhos de quem o tem, o sentimento pareceu ser diminuto demais pra ser notado, condenado ao esquecimento. Pareceu não ter valor. Chegou a ser teatral olhar para a carta intacta. E no mesmo instante, meu coração apertou por saber que minhas sentimentalidades não são nem ao menos interessantes. Então mais que depressa eu peguei de volta para mim aquelas palavras, enxuguei a doçura do papel, e recolhi para dentro da minha bagagem o envelope que guardava meus devaneios. Então, mais uma vez eu me encho de arrependimento por tentar colocar para fora coisas do coração. Desde sempre eu me acostumei a não expor meus pensamentos e guardar meus amores no porão. O mundo nunca esteve preparado e disposto para mim. E mais uma vez não está. Mas o erro foi meu, de insistir no equívoco de declarar minha paixão. Minha lamúria vai continuar sendo só minha, meu amor vai continuar sendo meu segredo. Mas, meu bem, você há de aprender um dia: eu gosto de me omitir não por falta de amor, mas por excesso dele.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Minha alma é um redemoinho de tudo que me constrói, é a inconstância do meu prazer, é a incerteza das minhas verdades. De fato, eu sou a linha tênue entre o medo e a esperança. De fato, eu sou aquilo que ainda não sei. Minha mente divaga, não só hoje, mas todos os dias, em universos, ao mesmo tempo, paralelos e opostos. Eu perambulo entre os planetas com a indecisão e a insegurança de quem duvida até do seu próprio nome. Mas amanhã talvez tudo já é outra coisa, eu sou um outro alguém, meus planetas já são outros e eu já mudei de nome. Eu reciclei minhas tristezas e minhas lágrimas já mudaram de cor. Minha tranqüilidade se dissolve em outros dilemas. Que seja sempre assim, meu eu em mim só: bala perdida no coração de ninguém. Minha solidão é meu maior segredo. Minha vida é a cada dia, cada manhã um novo talvez, cada noite um novo porém.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

É que as vezes, muito de mim é só resumo. Hoje meu enredo está entre aspas pois mesmo ainda que sempre novo, continuo eu apenas uma citação compulsória do meu texto original. E por mais que diga que não, sou sim, a cópia barata do que antes era novidade. Hoje sou museu, mas não do tipo detalhe em ouro, passeio Del Prado. Eu sou do tipo "exposição intinerária": sempre mudando, mas sempre o mesmo. Hoje eu sou mutante, mas do tipo as avessas: imutável no tempo do infinito. Hoje é, mais uma vez, dia de olhar para as estrelas. Então olha, meu bem, o céu esta noite. A estrelas que nos observam hoje são as mesmas que assistiram o suicídio grego. São as mesmas que descobriram o novo mundo. E certamente serão as mesmas que vão ver o fechar dos meus olhos. Tanto já viram. Continuam as mesmas. Assim como eu. Mas diferente de mim, as estrelas reconhecem seu brilho. Já eu: atolado no mesmice dos meus defeitos.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Desbrava esse sertão cheio de dor. Abraça essa floresta de ninguém e acampa no meio do perigo. Mergulha de alma aberta na face do desconhecido e diz que mais vale se apaixonar pelo que ainda não conhece do que namorar uma rotina de calendário. É fogo, é água, é sol, é chão. É índio de pele parda, tinta coral na bochecha do rosto, penacho é coroa, é o cacique da fantasia. Aquele ali, tão dono dessas terras sem posse, olha também querendo saber de onde branco veio. Foi quando assim, o bandeira o não disse. Decide então, ali infiltrar no mundo não-seu, cair na órbita do inóspito, na aventura do conhecer a mata fechada. E assim proclama que melhor seria estar perdido nos idiomas que não sabia traduzir do que se encontrar nos manuais da velha vida. E quando vê, já bebe o sangue do teu medo. Cai e levanta dentro aquilo que é novo, seca a fonte do insano, bebe a água do inesperado. Experimenta o veneno que ainda ninguém provou só pelo prazer de quem sabe morrer. Troca de pele toda noite, sob o luar que banha essa selva. Selva ainda sem mapa, bandeirante ainda sem nome, tudo que tem é o contorno de teu corpo na contra-luz do cruzeiro. Há mais aqui do que se conhece. Mas que seja assim: sempre mistério, sempre dúvida, sempre arriscado. E por fim, não se contenta com o que já te disseram sobre o escuro. O preto que se vê é um só, mas o que se vê do preto é um infinito a parte na história das cores. Desbrava teu mundo!

domingo, 1 de março de 2015

Nesses dias em que a vida me surpreende, prefiro o suicídio dos conceitos, prefiro gritar a paz que não tenho e esperar que a liberdade me console. Na luz de tudo que sou, minha estrada é um caminho infinito. No ponto mais nômade do ser, fui esculpido na pedra bruta do amor e ali mesmo benzido de liberdade. Desde então, vim a esse mundo para deitar debaixo sol do acaso e lá desfrutar de toda a sorte que o mundo me oferece. Engraçado seria, colocar limites do abraço da vida, mas muito ao contrário disso, eu deixei que a vida me despertasse. Permiti que minha alma flutuasse sob os rótulos que foram dados a mim. Minha liberdade sempre foi um mosaico das minhas decepções, exposto no museu público do exagero. Eu quis sofrer sem propósito, chorar minha saudade, amar quem eu ainda não conhecia, transpirar o fervor da juventude, rastejar atrás do fogo da esperança. Eu quis me presentear. Escolhi pular no abismo das coisas que eu ainda não sabia o nome, para que eu mesmo pudesse dar nome a elas. E assim, do modo que sempre fui, prossigo sendo. Errante sem medo do castigo. Livre, solto, completo, inseguro. As vezes me pego pensando, parado no meio da minha turbulenta alegria: desse inverno, fiz meu verão.